Hoje falaremos da primeira prova de tiro esportivo que participei na minha vida, quando tinha 16 (dezesseis) anos de idade, em 1992. Coincidentemente, foi a mesma modalidade que me recepcionou de volta às competições, em fevereiro de 2015. Trata-se do Tiro Rápido de Precisão.
Divisões e Armas
Esta é uma das muitas modalidades do Tiro Prático. Voltada para a habilidade do atirador com armas curtas. O Tiro Rápido de Precisão apresenta, dentre outras, as seguintes divisões: [1] Pistola; [2] Revólver; [3] Light; [4] Calibre .22LR e [5] Snub-Nosed (Snubby).
Segundo o regulamento oficial da Confederação Brasileira de Tiro Prático, existem outras divisões, até mesmo para armas longas, mas aqui vamos tratar das 5 (cinco) divisões acima arroladas, pois são as de mais fácil acesso para o atirador. Além disso, o regulamento oficial não contempla a divisão Light, que foi criada a partir de uma “regra da casa”, existente no clube onde pratico o esporte.
Divisão Pistola
Na divisão Pistola, participamos com pistolas semiautomáticas, de calibres iguais ou maiores do que o 9mm Parabellum, cujos canos não excedam o comprimento de 6 (seis) polegadas. Embora possamos utilizar calibres maiores e mais potentes que o 9mm Parabellum, este, por hora, só pode ser utilizado esportivamente por militares ou policiais federais, mas poderá ser utilizado, ainda neste ano de 2016, por atiradores desportivos em geral, devido a uma recente alteração no Art. 81 da Portaria COLOG 51 de 2015.
À esquerda: a austríaca Glock, modelo 17. À direta: a italiana Beretta, modelo 92. Ambas no calibre 9mm Parabellum, que logo estará ao alcance dos atiradores esportivos em geral e serão duas ótimas opções para o Tiro Rápido de Precisão.
Na divisão Pistola, os calibres mais comuns são o .40 S&W e o .45 APC. Mas há quem pratique com o .38 SUPER AUTO, muito difundido entre os atiradores de IPSC, calibre também conhecido como 9x23mm.
Acima: Colt 1911, em calibre .45 ACP. Abaixo à esquerda: Tanfoglio Limited Custom HC, em calibre .38 Super Auto. Abaixo à direita: Imbel MD7LX, em calibre .40 S&W.
Os atiradores esportivos também têm a possibilidade de usar o calibre 9x21mm, mas ainda é uma opção pouco difundida, devido à falta de variedade de armas neste calibre.
Como o Tiro Rápido de Precisão é uma modalidade de prova rápida e com poucos disparos, em que os atiradores ficam parados e recarregam poucas vezes suas armas, basta que se disponha de dois carregadores para que seja possível participar da prova com pistolas. Por isso, se o competidor quiser usar uma arma clássica, como, por exemplo, uma DWM no calibre 7,65 Parabellum (ou .30 Luger), basta dispor de dois carregadores para viabilizar as recargas e ele poderá participar na divisão Pistola. O calibre 7,65 Parabellum é menor que o 9mm Parabellum, mas sua energia cinética é alta o suficiente para que se enquadre na divisão Pistola.
Pistola DWM (Deutsche Waffen-und Munitionsfabriken), em calibre 7,65mm Parabellum. Note o estrangulamento na porção superior no cartucho.
Mas todos esses diferentes calibres competem na mesma divisão? Sim. Essa é uma das melhores características do Tiro Rápido de Precisão. O lento e pesado .45 ACP compete junto com “nervosinho” .40 S&W e com o “ardido” 9mm Parabellum, assim como todos os outros que eu citei. O atirador bem treinado terá tempo suficiente para fazer visada precisa e extrair o máximo de sua arma, tornando possível e divertida essa mistura de armas e calibres. De fato, se você quiser ver armas de último tipo, recentemente fabricadas, competindo “cabeça a cabeça” com as clássicas, fabricadas antes da Segunda Guerra Mundial, venha assistir uma prova de Tiro Rápido de Precisão.
Divisão Revólver
Nesta divisão competem os revólveres com mais de 3 (três) polegadas de comprimento de cano, até a medida máxima de 6 (seis) polegadas. O calibre deve ser igual ou maior do que o .32 S&W Long. Podem ser de quaisquer marcas ou modelos, desde que se enquadrem nas especificações de calibre e comprimento de cano. Aqui é bem possível ver os clássicos revólveres da Smith & Wesson competindo contra os Taurus novos e antigos. Quem sabe um Ruger ou um Colt? São raros, mas você pode ver um desses competindo.
Vale a mesma observação feita mais acima: diferentes revólveres e calibres competem uns contra os outros, pois as regras da prova focam mais na habilidade do atirador do que nas características das armas. No entanto, a maioria dos competidores usa os diversos modelos disponíveis da marca Taurus, com canos de 4 (quatro) ou 6 (seis) polegadas de comprimento. Hoje, os mais comuns são os modelos TA 86 e o RT 889, ambos em calibre .38 SPL.
À esquerda: Taurus TA-86, modelo antigo, com coronha em madeira zigrinada. À direita: Taurus RT-889, modelo novo, com coronha de borracha. Ambos em calibre .38 SPL, 6 (seis) polegadas de cano, 6 (seis) câmaras no tambor e alça de mira regulável na altura e na lateralidade. O TA-86 é um equipamento mais voltado para a precisão, enquanto o RT-889 para a robustez (note o cano pesado). Ambos são perfeitamente adequados ao Tiro Rápido de Precisão.
O único equipamento necessário, além do revólver, é o jet loader ou o speed loader, apenas um, para que o atirador faça uma recarga sem perder muito tempo.
À esquerda: Jet Loader, dispositivo impulsionado por mola. À direita: Speed Loader, dispositivo que depende da ação da gravidade. Ambos são utilizados para acelerar o carregamento do revólver.
Divisão Light
Na divisão Light competem as pistolas de fogo central em calibres iguais ou menores do que o .380 ACP (ou 9mm Kurtz ou 9x17mm). Basicamente são: .380 ACP, o 7,65 Browning (ou .32 AUTO) e o 6,35 Browning (ou .25 AUTO).
No mais, as regras são iguais àquelas da divisão Pistola. A divisão Light foi criada como uma “regra da casa” para que se faça a necessária separação de calibres (que a regra oficial não fez), devido à grande diferença balística entre eles. Esta divisão engloba os calibres de pistola ditos “anêmicos”, com características que os tornam intrinsecamente menos precisos que os seus “irmãos maiores”. O .380 ACP, por exemplo, utiliza projétil bastante curto, tendo pouca área de contato com o raimento do cano, o que o torna naturalmente menos preciso.
À esquerda: Walther PPK. À direita: Imbel MD1. Ambas no calibre .380 APC.
Não se enganem, eu não estou dizendo que esses calibres são imprecisos. Um bom atirador certamente obterá, na divisão Light, resultados muito superiores do que um atirador mediano na divisão Pistola. Mas, pelo menos em tese, atiradores com o mesma habilidade e treinamento obterão resultados ligeiramente melhores na divisão Pistola.
Outro elemento que faz necessária a existência dessa divisão advém do recuo dessas armas de calibres “anêmicos”. Por calçarem calibres de baixa energia cinética, o recuo dessas armas é bem menor. Nas mãos de um atirador muito experiente, essa diferença pode se mostrar excessivamente vantajosa.
Enfim, as armas e calibres colocados na divisão Light são suficientemente diferentes daqueles utilizadas na divisão Pistola.
Divisão Calibre .22 Long Rifle
Aqui competem as pistolas e revólveres em calibre .22 LR. Trata-se de um dos calibres dos mais precisos que existem, seus disparos apresentam pouco recuo, as armas são dotadas de mecanismo macio e de molas suaves... por esses e por outros motivos, os revólveres e as pistolas podem competir uns contra os outros na mesma divisão.
Esta é a divisão em que brilham as pistolas Colt Woodsman, Walthers e Rugers, ao lado dos revólveres Smith & Wesson K-22 e Taurus TA-96.
Trata-se da divisão mais livre, pois as características intrínsecas do calibre .22 LR permitem essa grande mistura de armas. Além disso, é aqui que você vai ver os melhores resultados, com as pontuações mais altas, pois este é o calibre mais preciso de toda a modalidade.
Acima: Smith & Wesson K-22 (ou Model 17 Masterpiece). Abaixo: Colt Woodsman de 2.ª Série com cano Match Target. Duas obras de arte no calibre .22 LR e que competem na mesma divisão.
Minha preferência pelo calibre .22 LR me torna suspeito: essa é a mais divertida prova com arma curta.
Divisão Snub-Nosed (Snubby)
Esta é uma divisão para revólveres cujo cano não ultrapasse a medida de 3 (três) polegadas, com tambores de apenas 5 (cinco) câmaras. Aliás, essas são as características dessas armas, chamadas comumente de Snubby. Além disso, essa divisão está restrita aos Snubbys em calibre .38 SPL. Snubbys em outros calibres não podem competir.
Taurus RT-85. Snubby com cano medindo 2 (duas) polegadas e tambor com 5 (cinco) câmaras no calibre .38 SPL.
Trata-se da divisão mais difícil da modalidade, com as pontuações finais mais baixas. Fazer Tiro Rápido de Precisão com revólveres Snubby é para quem tem nervos de aço. As dificuldades estão nos projetos das armas, que não foram pensadas para atirar em alvos posicionados a mais de 10 (dez) metros. A combinação de baixo peso e cano curto dificultam bastante o controle do disparo e o correto enquadramento das miras.
A Prova
As regras da modalidade são as mesmas para todas as divisões. Vamos começar pelo alvo e depois passamos para as três etapas da prova, terminando com a contagem dos pontos e os critérios de desempate.
O Alvo
Posicionado a 15 (quinze) metros do posto de tiro, o alvo é dividido em duas partes, dispostas lado a lado, cada uma com centro e zonas de impacto independentes. A largura total do alvo é de 72 (setenta e dois) centímetros e sua altura total é de 36 (trinta e seis) centímetros. O formato das zonas de impacto não é perfeitamente redondo, pois suas laterais são achatadas, a ponto de se tornarem retas, enquanto suas partes de cima e de baixo são formadas por semicírculos (formato “oval”). Apenas o centro do alvo, o “X”, é formado por uma mosca branca, perfeitamente circular, medindo 5 (cinco) centímetros de diâmetro.
As zonas de impacto que valem 10 (dez) pontos são maiores que as demais zonas do alvo, no centro da parte que “vale” 10 (dez) pontos está a mosca branca de 5 (cinco) centímetros de diâmetro, que vale “X”. Tanto o 10 (dez) quanto o “X” são contabilizados com o mesmo valor: 10 (dez) pontos. O “X” é usado como critério de desempate.
Mesmo com muito treinamento, equipado com uma arma bem regulada e bem precisa, nunca é fácil acertar um círculo de 5 (cinco) centímetros a 15 (quinze) metros de distância e com o tempo contado. Alguns excelentes atiradores, que acertam o “X” com frequência em treinos sem tempo contado, podem se ver em maus bocados durante as provas, amargando resultados pouco competitivos por causa da pressão exercida pela contagem de tempo.
As 3 (três) Séries de Disparos
Pois bem, vamos começar a atirar. Nesse momento, os atiradores estão dispostos na linha de tiro, com as bancadas às suas frentes e com os alvos colocados a 15 (quinze) metros de distância.
Pelas regras oficiais, os braços devem estar abaixados, estendidos e relaxados ao longo do corpo e as armas devem estar em coldres especiais para tiro prático. Mas, para facilitar o acesso dos atiradores à prova, temos outra “regra da casa", permitindo que a arma esteja sobre a bancada, voltada para o alvo, e, se for uma pistola, deve sempre estar travada, seja no coldre ou na bancada.
Em verdade, sacar a arma do coldre representa uma vantagem significativa em relação a retirá-la da bancada, pois o saque é muito mais rápido e mais natural, principalmente se levarmos em conta a posição inicial dos braços, que deve sempre ser a mesma: estendidos e relaxados ao longo do corpo, com as mãos para baixo.
A arma deve estar municiada com, no máximo 6 (seis) cartuchos. Os carregadores sobressalentes, assim como os jet loaders ou speed loaders, também devem estar municiados com, no máximo 6 (seis) cartuchos.
Ao primeiro comando sonoro, o atirador deve sacar ou pegar a arma na bancada e efetuar 10 (dez) disparos no lado esquerdo do alvo, no tempo máximo de 30 (trinta) segundos, com 1 (uma) recarga obrigatória. Pode parecer muito tempo, mas lembre-se que o “X” do alvo mede apenas 5 (cinco) centímetros de diâmetro e está a 15 (quinze) metros de distância.
Depois da primeira série, as armas são desmuniciadas e remuniciadas para a próxima etapa. Mais uma vez, o atirador pode carregar sua arma com, no máximo 6 (seis) cartuchos.
Ao segundo comando sonoro, o atirador deve repetir o saque ou a pega da arma, mas desta vez para efetuar apenas 5 (cinco) disparos, no lado direito do alvo, em 10 (dez) segundos, sem recargas.
Repete-se toda a preparação, municiando-se as armas da mesma forma, e, na terceira série, após o comando sonoro, o atirador saca ou pega a arma na bancada e efetua os últimos 5 (cinco) disparos, também no lado direito do alvo. Mas dessa vez em apenas 8 (oito) segundos!
Ao todo, são efetuados 20 (vinte) disparos, sendo 10 (dez) em cada lado do alvo. A pontuação máxima da prova é de 200 (duzentos) pontos. Se houver empate, o desempate é feito pela contagem do maior número de “X” que o atirador obtiver.
Finalizando
O Tiro Rápido de Precisão é uma prova realmente rápida, os tiros são efetuados em, no máximo, 48 (quarenta e oito) segundos. No final das contas, passamos muito mais tempo nos preparando para cada uma das 3 (três) séries, do que atirando mesmo.
A prova é divertida e muito popular em todos os clubes que a adotaram como modalidade habitual de competição. Nos dias dessa prova revemos os amigos, conversamos, partilhamos informações sobre as armas e munições, trocamos “receitas” de recarga de munição, falamos sobre projéteis, e principalmente, fazemos tudo isso num ambiente fraternal e preenchido pelo delicioso cheiro de pólvora queimada.
Lembre-se: segurança em primeiro lugar.
Alexandre Coelho
Fonte: Aço Temperado