Fuzil soviético compõe 15% do total de armas ligeiras do mundo e se tornou símbolo de revolução
No final da década de 1940, o engenheiro Mikhaíl Kaláshnikov estabeleceu a produção de seu lendário fuzil AK-47, que se tornou não apenas a principal arma do exército soviético, mas um símbolo nacional do país.
Paradoxalmente, o fuzil também se tornou símbolo de revoluções e atributo permanente nas mãos de guerrilheiros em muitos países em desenvolvimento.
Caminho para a glória
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Mikhaíl Kaláshnikov foi o 17° filho de um casal de camponeses em 10 de novembro de 1919, na pequena aldeia de Kuriá, na região russa de Altai. Devido ao empobrecimento do pai, que foi kulák (um camponês abastado) e à incapacidade da família de alimentar todos os oito filhos sobreviventes, Mikhaíl deixou a escola na sétima série, quando conseguiu um emprego na construção da ferrovia Siberiana.
Kaláshnikov criou suas primeiras invenções antes da Segunda Guerra Mundial, entre elas, um contador de tiros para metralhadoras e um contador de quilometragem para tanques. Todas as invenções dele foram produzidas em massa e usadas em equipamentos da época.
Em 1941, quando a União Soviética entrou na Segunda Guerra Mundial, Kaláshnikov foi enviado à frente de batalha como motorista de tanque. Apenas um mês depois, porém, foi gravemente ferido e hospitalizado.
Sem possibilidade de continuar na frente de guerra, ele foi enviado para uma fábrica de armas em Ijévsk, na Rússia Central, onde foi encarregado de desenvolver armas pequenas para fins militares.
Kaláshnikov desenhou seu primeiro fuzil de assalto ainda no hospital. Era uma metralhadora compacta e portátil para divisões de tanque, que podia ser carregada em veículos com cabines pequenas. No entanto, devido à baixa precisão da arma, ela não entrou na linha de produção.
AK-47
No início dos anos 1940, surgiu uma nova classe de armamentos de pequenas dimensões: os fuzis de assalto. A primeira arma desse tipo foi empunhada por tropas nazistas e levou a uma verdadeira revolução na produção de mundial bélica.
Os cartuchos dos fuzis de assalto eram mais fraco do que os dos fuzis de precisão, mas muito mais poderosos do que os de uma pistola.
Assim, as tropas receberam o armamento, com cadência de tiro tão alta que podia atingir alvos a uma distância de 100 a 200 metros, como os melhores fuzis de precisão da época.
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O fuzil AK foi a primeira arma soviética desta classe, construída para o cartucho “intermediário” de calibre de 7.62 x 39 mm. Kaláshnikov apresentou sua invenção ao Ministério da Defesa no final da Segunda Guerra Mundial e venceu uma licitação para o fornecimento da nova arma como a principal do exército soviético. Foi assim o fuzil de assalto AK-47 entrou na linha de produção na fábrica de armas de Ijévsk.
No entanto, a metralhadora mais famosa do mundo ainda teve que passar por uma série de modernizações, realizadas com auxílio de engenheiros alemães.
O principal problema do AK-47 era, novamente, a precisão de fogo: engenheiros russos e alemães trabalharam durante anos para corrigir essa deficiência.
O resultado foi o fuzil mais confiável até os dias atuais. “Até hoje, a precisão do fuzil AK é inferior à dos modelos americanos e alemães modernos, mas a confiabilidade e simplicidade da arma russa é inegável”, diz um agente das Forças de Operações Especiais que não quer ser identificado.
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Embora designado como “modelo de 1947”, ano a que remete o “47” do nome, o rifle entrou na linha de produção e foi introduzido no Exército apenas em 1949.
Segredo do sucesso
A plataforma AK ganhou popularidade global não apenas graças à sua confiabilidade, mas também devido à facilidade de produção. Hoje, existem no mundo quase 100 milhões de fuzis de assalto Kaláshnikov oficialmente registrados em pelo menos 55 países.
Além da simplicidade e confiabilidade, uma vantagem muito importante é seu preço: um AK produzido na Europa Oriental custa cerca de US$ 300, enquanto o preço de seu principal concorrente, o AR-15 dos Estados Unidos, é de US$ 1.000.
O fuzil de assalto Kaláshnikov foi adotado por exércitos de todos os países do antigo bloco socialista. Hoje, modificações AK-47 são produzidas, frequentemente sem licença, na Albânia, Bulgária, Hungria, Egito, Irã, China, Polônia, Romênia e Coreia do Norte.
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O AK está até mesmo no emblema nacional, na bandeira e nas notas monetárias de Moçambique e nos emblemas nacionais do Zimbábue e de Burkina Faso.
A arma também é popular em comunidades criminosas do mundo inteiro. Por exemplo, os cartéis de drogas latino-americanos apelidaram a arma russa de “cuerno de chivo” (chifre de cabra), devido ao carregador curvo.
Vida após o AK
A plataforma desenvolvida por Mikhaíl Kaláshnikov tornou-se base para toda a indústria de armas de pequeno porte da URSS. O sistema AK foi usado em todos os fuzis automáticos e metralhadoras produzidos posteriormente na URSS, independentemente de calibre e tamanho.
Mikhaíl Kaláshnikov e sua equipe em Ijévsk criaram uma série de outros rifles automáticos: metralhadoras pequenas Vityaz, de 9 mm de calibre, para operações em espaços urbanos, metralhadoras Petcheneg, de 7.62 x 39 mm de calibre, AK-74 e muitas outras.
“Não fosse a Segunda Guerra Mundial, eu, provavelmente, continuaria a projetar equipamentos para automatizar o trabalho de camponeses. Os alemães são culpados por eu me tornar um engenheiro militar”, disse Mikhaíl Kalashnikov durante exposição dedicada ao 60º aniversário do AK-47.
Kalashnikov participou do desenvolvimento de novos armamentos em sua fábrica em Ijévsk até os últimos anos de vida. Ele morreu em dezembro de 2013, após longa luta contra uma doença grave.
Fonte: Russia Beyond